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A Câmara Municipal de Cuiabá comemora mais uma vez o dia internacional da mulher, e nesta oportunidade, dedica uma homenagem a uma das mulheres mais dedicadas e virtuosas da cuiabania, e que felizmente foi vereadora na nossa instituição legislativa entre os anos de 1963 a 1966, sendo ainda presidente nos dois últimos anos de mandato.

Não podemos tratar neste artigo somente sobre a vida política da homenageada como vereadora. A extensa biografia de Ana Maria do Couto ultrapassa as margens desta redação, mas devemos justamente apresentá-la a fim de tornar pública a sua história e cativar as mulheres em um país de declarada desigualdade sexual e por vezes carente da audácia feminina.

Ana Maria do Couto era carinhosamente conhecida por "May". Este apelido surgiu logo ao nascer, pois o seu irmão mais velho atrapalhava-se com as primeiras palavras e só conseguia chamar a irmã por "May". 

Ela nasceu em Cuiabá no dia 13 de setembro de 1925. Cuiabá era uma cidade pequena, inclusive para ela, que aos 16 anos de idade partiu para a capital do país, Rio de Janeiro, para iniciar as suas primeiras conquistas. Antes de retornar para a nossa cidade, May recebeu afetuosos escritos que demonstram a sua empatia e uma personalidade ímpar percebida por seus amigos no Rio de Janeiro. Um de seus professores escreveu è ela: "se ainda existisse o genial Miguel Ângelo, e tivesse ele de pintar o quadro mais belo entre todos por ele pintado, no qual fosse representado o que de mais belo da natureza viva existisse, bastaria pintar a sua imagem, e tudo de mais belo estaria ali representado, VOCÊ!". O outro partiu de um amigo apaixonado: "são tantos bons predicados que reúnem em torno de tua meiga pessoa que não há expressão para descrevê-los. Diante de tanta bondade e simpatia, sinto-me quase dominado pelos impulsos do coração, porém, resisti à tentação ao observar que és apenas minha amiga e, como teu amigo, procurarei corresponder às expressões fiéis de tua camaradagem espontânea e cristalina".

Ana Maria dedicou parte da sua vida ao esporte e à educação. Foi atleta no clube esportivo Fluminense, diplomou-se em Educação Física no Rio de Janeiro em 1944, cursou História, em seguida Contabilidade e, por fim, fez parte da primeira turma da recém inaugurada Faculdade de Direito de Mato Grosso. Deu aulas de Educação Física e História na Escola Normal Pedro Celestino, no colégio Coração de Jesus e na Escola Estadual, atual Liceu Cuiabano, onde foi também diretora. Além de atleta, professora e contadora, Ana Maria foi advogada, promotora judiciária, radialista, apresentadora de televisão e presidente do seu amado Clube Esportivo Dom Bosco.

Por causa da sua popularidade, Ana Maria do Couto, filiada ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), conquistou o voto de 442 eleitores nas eleições de 7 de outubro de 1962. May do Couto, assim referida por vezes pelo taquígrafo da Câmara Municipal, tomou posse no dia 31 de janeiro de 1963, aos 37 anos de idade. Para nós, demandaria tempo a análise de todas as suas atividades como vereadora, mas seu amor pelo povo cuiabano e por Cuiabá está presente em seus projetos e em discursos.

 

O auge da sua vida política ocorreu no dia 31 de janeiro de 1965, quando foi eleita presidente da Câmara Municipal de Cuiabá, com sete dos 13 votos dos vereadores. No discurso de posse, disse: "aos ilustres membros do nosso legislativo, que confiaram em mim a significação deste honroso mandato que se inicia, cabe-me expressar a sinceridade do meu melhor agradecimento, reafirmando a todos os presentes o meu propósito de cumprir e fazer cumprir os ordenamentos jurídicos que disciplinam a nossa vida orgânica, zelando pelo decoro e pelo bom nome da Casa Cuiabana, em nome do seu povo que nos deu oportunidade de sermos úteis à cidade que nos serviu de berço". (...) "sentimos que o nosso município precisa ser pensado para que, da comunhão dos nossos ideais e sentimentos, resulte bem nítido o projeto real da cidade moderna que desejamos que seja nossa heróica Cuiabá".

May foi acometida precocemente por um câncer e faleceu com 46 anos de idade, no dia 17 de outubro de 1971. Enluta, a cidade acompanhou dolorosamente o seu sepultamento. Em uma homenagem póstuma na Câmara Municipal, o vereador Ivo de Almeida disse aos pares: "neste Plenário, em cada canto, ressoa ainda, um som longínquo e saudoso, aquela voz inigualável. A voz de May, presidindo as sessões, aquele timbre inconfundível, o seu equilíbrio sereno nas decisões. Todos nós temos sua história. Felizes aqueles que conseguem escrever para a posteridade, em letras de ouro, mensagens de humorismo, de trabalho, de dignidade". 

May foi audaz, pioneira e perspicaz. Ela viveu intensamente e deixou uma biografia invejável, agindo com modos disformes ao seu período, em uma época em que Cuiabá estava distante do debate emancipatório da mulher.

Nada mais oportuno do que afirmarmos que a mulher de hoje é a May de décadas atrás. Que a sua história de vida seja referência para todas as mulheres e que elas percebam que devem cantar, pelos quatro cantos, todos os seus direitos, sem perder a saudável essência da mulher, tão admirada.

Feliz Dia Internacional da Mulher. 

Danilo Monlevade

Analista Legislativo

Coordenadoria de Cultura e Resgate Histórico

Fontes

COUTO, Francisca. Presença de May,1975.

Acervo histórico da Coordenadoria de Cultura e Resgate Histórico.

Jornal “O Estado de Mato Grosso”.

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