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03/10/2018
Bate papo com o Psicólogo Douglas Amorim
Reprodução Internet
A equipe da SECOM da Câmara Municipal de Cuiabá teve um encontro com o psicólogo Douglas Amorim, um cuiabano de raízes profundas – avós e pais, originários deste rincão. Com influências quase zero nas rodas sociais da cidade, lançou mão da criatividade – um ensaio fotográfico com Leomax - para projetar seu nome e dedicar-se à grande paixão: a clínica, onde tem a oportunidade de ajudar muito as pessoas.

A conversa se desenrolou por mais de uma hora e abordamos, descontraidamente, temas pesados como suicídio, até os “aparentemente” corriqueiros como uma estratégia de emagrecimento.

O resultado desse “papo” pode ser conferido no texto abaixo e também no facebook.com/camaracba.

SECOM - Quem é o Douglas?
D. A.  – "Sou um cuiabano nascido no Hospital Geral com toda a família cuiabana, pai, mãe e avós, todos daqui mesmo. Criado no bairro Novo Horizonte iniciei os estudos na Escola Juscelino José Reinners e o então segundo grau – atual ensino médio -, fiz no Presidente Médici. Cursei a faculdade de psicologia na UNIVAG como bolsista Pro-Uni, e formei-me em 2010.
A faculdade foi um período difícil, tomava três ônibus para chegar ao campus. Curso em período integral, não podia trabalhar e como a família não dispunha de muitos recursos, precisei vender salgados e bolos gelados para custear os estudos. Meu pai é mecânico, minha mãe dona de casa e minha avó dava uma ajuda quando podia. Mas foi um tempo grandes ensinamentos para o futuro".

O início profissional não foi fácil, trabalhando no RH (Recursos Humanos) em empresas privadas tanto da capital quanto do interior, mas sempre planejando abrir a própria clínica, “minha grande paixão”. Mas contra esse projeto, além da insegurança natural em qualquer ser humano, pesava o desconhecimento nos círculos sociais. “Pensava que não funcionaria”.
Em 2016 tomou a decisão de dedicar-se exclusivamente à clínica e começou um trabalho através do contato “boca a boca”, abordando as pessoas e mostrando o modo de trabalhar.

D. A.  – "Fiz um ensaio fotográfico tendo em mente mostrar de forma artística como pessoas em depressão, com sentimentos negativos ou com outros tipos de transtornos mentais, de modo geral se portam.
O ensaio acabou saindo em redes sociais e também em órgãos da imprensa nacional e internacional. Países como Alemanha, Inglaterra. E tive contato com pessoas de outros países que expuseram as fotos em feiras de saúde mental. Isso deu um posicionamento inicial e contribuiu para o funcionamento da clínica"

SECOM – E para quem o tratamento psicológico é indicado?
D. A.  – "É indicado para todas as pessoas e não só para quem está em sofrimento. A psicologia pode ajudar a desenvolver uma habilidade comportamental que você gostaria (ou precisa), timidez, ciúme patológico, comportamentos mal interpretados – às vezes a pessoa usa um tom de que desagrada e é mal entendida. Mas de modo geral quem procura são pessoas que pensam em separação, está em depressão, com ansiedade. São essas as principais causas. Às vezes a separação não está acontecendo ainda, mas já existe um pensamento a respeito".

SECOM – A psicologia tem levado o Douglas a vários lugares como uma rádio, onde faz uma intervenção na Mega FM, abordando assuntos variados afetos ao ser humano. Como está hoje a aceitação da psicologia no meio social? 
D. A.  – "Em razão de campanhas como Setembro Amarelo, que aborda suicídio Janeiro Branco, que incentiva uma reflexão sobre a saúde mental, tem resultado em maior nível de conscientização. Quanto mais falarmos sobre a busca de saúde mental, melhor as pessoas vão enxergar o tratamento psicológico.
Ainda temos um tabu a quebrar, de considerarem a terapia apenas para doentes, para pessoas fracas, que de alguma forma não deram conta de suportar a pressão. Muita gente tem dificuldade de ir a (qualquer) médico.
Há pacientes que não revelam a conhecidos que fazem terapia, evitam que por que acham que serão mal interpretadas, que serão vistas como alguém doente da cabeça, que não deu conta sozinho. Quando na verdade, essa pessoa (a que procura o psicólogo) foi muito forte, o suficiente para reconhecer que precisa de auxílio. Admitir isso é um passo extremamente grande e mostra alguém que não tem medo".

SECOM – Nossa sociedade prega (de modo geral) que você tem que ser feliz...
D. A.  – "É o mito da felicidade um grande responsável pelo sofrimento das pessoas, porque ele diz que a felicidade deve ser buscada a todo custo. Só que não considera que somos humanos, que nós temos emoções variáveis. Então um dia você acorda bem e no outro dia nem tanto, ou até mesmo muito mal. Mas o mito da felicidade vai dizer que você precisa ser feliz a todo custo. Se você está tendo algum problema no seu relacionamento você precisa jogá-lo pela janela e começar um novo, ou que você não pode suportar o sofrimento. Mas, pelo contrário, deve-se suportar o sofrimento, a angústia. Mas suportar não significa aceitar, mas entender que ele existe, que existem dias ruins mas eles passam por que nós somos humanos e temos essas oscilações. Então quando o sofrimento chega o que devemos fazer na verdade é perguntar para a angústia ou para o sofrimento o que preciso aprender para que eu melhore e dissolva isso".

Segundo Douglas, aquilo que negamos que existe dentro de nós não acaba ou se extingue com a negação, mas apenas fica represado. 

D. A.  - "Então é preciso abrir as comportas e deixar isso fluir, deixar passar".

Nesse sentido Douglas vê o sofrimento como um grande professor, “é um sinal que aponta para aquilo que precisamos solucionar, resolver para deixar a vida fluir”.

SECOM – Um prêmio da Mega Sena, uma boa grana, é um remédio?
D. A.  – "Penso que não há felicidade sem conforto. E conforto não significa tem muito dinheiro. Conforto significa no mínimo ter o cenário ideal para que você consiga cumprir as suas obrigações financeiras e tenha uma vida digna.
Então o dinheiro nada mais é do que uma ferramenta para proporcionar um certo conforto. Quando o dinheiro se torna a motivação da felicidade ou do bem estar, estou amarrando a ideia de felicidade a algo que muitas vezes não depende de mim, pois posso perder a qualquer momento. Quando entendo o dinheiro como uma ferramenta posso ser feliz desamarrado dele. Mas é óbvio que ninguém é feliz tendo uma vida desconfortável".

SECOM – Diz uma canção que “é impossível ser feliz sozinho”. É mesmo?
D. A.  – "Os humanos são seres sociais. Desejamos a sociabilidade, estar com pessoas e com elas dividir a nossa vida, nossas experiências. É possível ser feliz sozinho, é possível ser feliz por si mesmo, por ser quem você é, desatrelado de outra pessoa. Mas sendo feliz você vai desejar dividir essa felicidade  com outra pessoa. O problema na interpretação dessa frase do poeta é que eu só consigo ser feliz quando amarro a felicidade a outra pessoa. Aí é algo equivocado, porque coloco minha felicidade em algo que não depende de mim, porque o outro pode ir embora, pode sair da minha vida a qualquer momento. Quando eu consigo ser feliz sozinho, eu desejo dividir essa felicidade com outra pessoa. Perceba: é dividir a minha felicidade com outra pessoa, não é tirar dessa pessoa a minha felicidade ou ter essa pessoa como a fonte da minha felicidade".

SECOM – Isso tem levado muita gente a por fim a própria vida.
D. A.  – "(ao incorporar o mito da felicidade)... a pessoa não consegue suportar as emoções negativas e as mais presentes são a frustração pelo  término de um relacionamento amoroso a perda de emprego, briga familiar, algo que não está funcionando na vida. As pessoas não se sustentam com essa frustração, (perderam) alguma coisa na qual colocaram a expectativa de suas vidas e quando acaba e que precisam administrar isso, essa perda, de alguma forma, não dão conta justamente por que entregaram ao outro a responsabilidade de fazê-las feliz. Então elas passam a pensar que a vida não pode continuar. Na verdade ocorre que elas não conseguem suportar a frustração. Elas pensavam uma coisa da vida, amarram a vida, seu sentido de vida, de felicidade a uma pessoa, a um bem, a uma fonte de renda e de repente isso acaba, se perde (e muitas vezes a perda não acontece por responsabilidade de que suicida, mas por razões incontroláveis, improváveis). Aí começa a pensar que a única possibilidade – conforme a própria frustração faz parecer – é resolver tudo acabando com a própria vida. É importante entender que pensar em morte é comum. Todos nós pensamos em morte em algum momento da vida. Todos pensamos até que a morte fosse naquele momento a única saída. A diferença entre os que pensaram e não cometeram o ato e aquela que suicidou é que as primeiras conseguiram reelaborar isso e eliminar os pensamentos negativos - seja por uma questão de responsabilidade afetiva para com as pessoas ao nosso redor ou conosco mesmo. Quem pensou e cometeu o ato, não conseguiu dissolver isso. A pessoa alimentou esse pensamento um dia, no dia seguinte e outros dias alimentando isso até o momento que terminou em ato".

SECOM – Mas Douglas, compensa viver sofrendo?
D. A. – "Voltamos ao mito da felicidade, que diz que não se pode sofrer. Isso faz com que o sofrimento fique insuportável, porque a pessoa começa a fazer uma espécie de comparação. Comparo a minha vida com a dos outros e assim parece que está todo mundo vivendo bem e só eu que estou sofrendo, quando na verdade todos têm algum tipo de sofrimento. Todos os dias nós temos de encarar de frente nossas frustrações: as questões que não conseguimos solucionar. Então a ideia da pessoa que suicida é que ela sofre mais do que as outras é uma ideia correta porque é a forma como ela formulou seu pensamento, como ela entende a vida, mas, obviamente não é correto do modo de dizer que, especialmente, ela sofra mais ou diferente de outras pessoas. É o mesmo sofrimento, a questão é como ela vai alimentar isso. E muitas vezes ela não tem a habilidade capaz de dissolver isso, como a maioria das pessoas tem. É aí que entra o tratamento psicológico que vai ensiná-la, ajudá-la, a desenvolver habilidades cognitivas, comportamentais, pra poder lidar melhor com essas questões que as estão levando a pensar que a morte é a melhor saída".

SECOM – Nesse sentido os jovens tem sofrido muito a influencia das mídias sociais?
D. A. – "A principal causa de suicídio e de sofrimento de crianças e adolescentes é a influencia social. Sempre oriento que as pessoas olhem as redes sociais como uma revista. Uma edição da vida onde se escolhe o que vai ser publicado, mostrado. Poucos ou mesmo ninguém vai postar boletos vencidos. Vai ser postado o que está bem. E isso não quer dizer que se esteja sendo falso. É apenas uma escolha, é a forma como a pessoa quer aparecer".

SECOM – E que se pode fazer contra esse estado de sofrimento das pessoas?
D. A. – "O que salva vidas é informação. Se hoje temos uma consciência sobre o mosquito da dengue, é por conta de campanhas de educação através da mídia. Então hoje sabemos das consequências e como fazer a prevenção. O que salva uma pessoa que está em depressão, que precisa buscar ajuda psicológica é informação. Então você que está próximo de alguém que manifesta depressão ou ansiedade, o que vai salvar essa pessoa não é só o acolhimento demonstrado, mas também a informação de que isso é uma doença, que tem tratamento e que se pode buscar ajuda com um psicólogo pois não é um problema apenas do campo pessoal. Frisar que ela não é fraca por isso, por não estar conseguindo lidar com os problemas. Mas tem também a questão de estrutura mental, de pensamentos que fizeram com que a pessoa passasse a interpretar a vida como algo ruim. Além disso tudo, existem ainda as mutações bioquímicas que podem provocar depressão, ansiedade e que muitas vezes as pessoas não sabem sobre isso. Então, você que está próximo de alguém com esses problemas, além de acolher não deve olhar para ela como se fosse preguiça, como fosse frescura, meio de chamar atenção. Além de acolher é municiá-la de informação, fazê-la entender que ela pode buscar ajuda, pois isso tem tratamento".

SECOM – A psicologia oferecer muitos recursos...
D. A. – "Eu me considero uma prova viva do poder da psicologia, de como a ciência pode ajudar as pessoas.
Não reclamo. Não tive uma infância de escassez, mas foi uma infância muito simples, essa simplicidade acabou me entregando uma possibilidade de mudar minha vida através do estudo. Eu trouxe isso para a minha vida de trabalho. Eu trabalhava como gestor de recursos humanos e era uma coisa que não estava me dando felicidade. A clínica era minha paixão. No trabalho na minha terapia (psicólogos fazem terapia com outro psicólogo) pude encontrar dentro de mim o poder necessário para recomeçar profissionalmente, me dedicar ao que desejava. Hoje eu ajudo muito as pessoas a fazerem esse caminho também, não o caminho de mudança de profissão, mas o caminho de encontro próprio, de encontrar dentro de si a motivação necessária para elas serem o que elas são realmente".


SECOM – CÂMARA MUNICIPAL DE CUIABÁ
ASSESSORIA DE IMPRENSA





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